Quando nos zangamos com um irmão, podemos facilmente ultrapassar limites que não deveríamos ultrapassar. A ira, quando não é controlada, se transforma em palavras duras, atitudes impensadas e comportamentos que ferem profundamente aqueles que amamos. E, como cristãos, sabemos que não fomos chamados para alimentar ressentimentos, mas para exercer graça, paciência e domínio próprio. No caso de um irmão que nos ofenda, nosso primeiro impulso natural pode ser retribuir, justificar nossas emoções ou até nos distanciar. Contudo, a Palavra de Deus nos chama para algo totalmente diferente: devemos nos aproximar daquele irmão com espírito de mansidão, humildade e amor. Este é o caminho difícil, porém o caminho que glorifica a Cristo.
“Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados:
‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’.Mateus 5:21
Para introduzir a questão da ira, Jesus nos leva ao mandamento antigo: “Não matarás”. Esse mandamento, nos dias de Moisés, era associado diretamente ao ato físico de tirar a vida de alguém. No entanto, Jesus aprofunda o entendimento mostrando que o problema não começa quando a mão se levanta para ferir, mas quando o coração se enche de ódio e desprezo. Cristo revela que existe um julgamento espiritual que recai até mesmo sobre a ira não controlada. Ou seja, mesmo sem cometer assassinato de forma literal, uma pessoa pode tornar-se culpada diante de Deus por nutrir ódio contra seu irmão. Isso demonstra como o coração é o ponto central da Lei divina.
Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento.
Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’, será levado ao tribunal.
E qualquer que disser: ‘Louco!’, corre o risco de ir para o fogo do inferno.Mateus 5:22
Observe que Jesus menciona palavras específicas que eram usadas na época como insultos pesados. “Racá” era uma expressão de desprezo, algo equivalente a dizer que o outro não tem valor algum. Já chamar alguém de “louco” ia além de uma simples ofensa, era uma acusação moral, uma forma de rebaixar a dignidade daquela pessoa. Cristo está deixando claro que a língua pode ferir com a mesma gravidade que uma faca. O julgamento divino não se baseia apenas no que fazemos com as mãos, mas no que pronunciamos com a boca e alimentamos no coração.
Não ajamos como os ímpios, cujo prazer está em provocar discórdia, humilhar os outros e espalhar palavras que machucam. Há pessoas que vivem procurando motivos para irritar, para ferir e para dividir. Mas nós, como discípulos de Cristo, somos chamados a ser diferentes. Sejamos pacificadores, não incendiários. Se algum irmão pronunciar palavras que desagradam a Deus, nossa postura não deve ser devolver com a mesma moeda, mas procurar corrigi-lo com amor, mansidão e compreensão. A correção feita com humildade pode restaurar relacionamentos; a feita com arrogância apenas destrói ainda mais.
A ira mal resolvida abre portas para o pecado, e por isso a Bíblia nos ensina a não permitir que o sol se ponha sobre nossa ira. Deixar que a raiva permaneça no coração gera raízes de amargura, e a amargura, quando cresce, destrói famílias, amizades e até igrejas inteiras. O caminho bíblico é claro: reconciliar, perdoar, dialogar e superar. Jesus afirma que, antes mesmo de levarmos nossa oferta ao altar, devemos acertar nossas pendências com o irmão. Isso mostra que a reconciliação é prioridade espiritual.
Que possamos, portanto, vigiar nossas emoções, guardar nossos lábios e buscar sempre a paz. Quando formos ofendidos, que respondamos com mansidão. Quando formos tentados a ofender, que lembremos das palavras de Cristo. E quando falharmos — porque todos nós falhamos — que busquemos perdão e restauração, sabendo que isso agrada ao Senhor.