O Salmo 90 é uma poderosa oração a Deus, mas também um profundo cântico de reflexão e ação de graças pela grandiosa obra de Deus ao longo das gerações. Este salmo, atribuído a Moisés, nos transporta para um momento em que o povo de Israel já havia experimentado inúmeras provas, correções, livramentos e demonstrações do poder divino. De geração em geração, apesar das falhas humanas, Deus continuou sustentando Israel com Sua mão forte, guiando-os no deserto, abrindo mares, enviando alimento e protegendo-os de inimigos. É um salmo que reconhece a eternidade de Deus e a fragilidade humana, e ao mesmo tempo expressa um pedido sincero por misericórdia e renovação.
Moisés, o homem escolhido pelo próprio Deus para liderar Israel para fora da escravidão do Egito, conhecia profundamente a dureza de coração do povo e também a infinita paciência do Senhor. Ele viu de perto os milagres e testemunhou o poder de Deus, mas também viu as constantes murmurações, rebeliões e ingratidões da nação. Por isso, sua oração no Salmo 90 é marcada por humildade e reconhecimento da necessidade de depender totalmente da misericórdia divina.
Antes de tudo, Moisés reconhece que o povo falhou inúmeras vezes. Eles se esqueceram constantemente dos feitos de Deus, duvidaram de sua provisão e desejaram voltar ao Egito, mesmo depois de verem tantos milagres. Diante disso, Moisés suplica que Deus continue derramando Sua misericórdia sobre eles. Ele pede que Deus os satisfaça não com riquezas, nem com conquistas, mas com a Sua benignidade — algo que é infinitamente mais valioso do que qualquer bem material que pudessem obter.
13 Volta-te para nós, Senhor; até quando? E aplaca-te para com os teus servos.
14 Sacia-nos de madrugada com a tua benignidade, para que nos regozijemos e nos alegremos todos os nossos dias.
15 Alegra-nos pelos dias em que nos afligiste, e pelos anos em que vimos o mal.
Salmos 90:13-15
Com o coração totalmente humilhado diante de Deus, Moisés clama: “Volta-te para nós, Senhor.” Essa expressão revela a percepção de que, sem a presença e o favor de Deus, o povo não tinha direção, força ou propósito. Quando ele pede que Deus se volte para eles, está dizendo: “Senhor, olha para nós, vê nossa condição, não nos abandones, continua sendo o nosso guia.”
Ele pede também que o Senhor os sacie desde a madrugada com a Sua benignidade. Isso significa desejar acordar todos os dias sendo lembrados do amor constante de Deus. A ideia é que a misericórdia divina seja o alimento espiritual diário, o sustento emocional e a força para continuar caminhando, mesmo em meio às dificuldades do deserto e às lutas internas do povo.
Moisés também reconhece que Deus permite momentos de aflição. O povo de Israel enfrentou disciplina, atravessou períodos duros e experimentou a consequência de seus pecados. Porém, esse tempo de correção não foi para destruí-los, mas para moldá-los, ensinar-lhes dependência e mostrar-lhes que sem Deus eles eram incapazes de atravessar o deserto ou vencer suas batalhas. Por isso ele ora: “Alegra-nos pelos dias em que nos afligiste.” Moisés entende que Deus pode transformar até mesmo a dor em motivo de crescimento e renovação.
No final, o clamor de Moisés é para que o povo aprenda a exaltar a Deus com cânticos e louvores, reconhecendo que tudo o que possuem vem dEle e que somente Sua misericórdia pode sustentá-los. Ele sabe que a verdadeira alegria não está nas circunstâncias, mas na presença do Senhor. Se Deus estiver com eles, mesmo no deserto haverá alegria, mesmo na escassez haverá provisão, e mesmo na aflição haverá esperança.
Assim como Israel, também nós precisamos diariamente da misericórdia de Deus. Precisamos que Ele nos sacie a cada manhã com Seu amor, que nos renove quando falhamos e que nos fortaleça para caminhar em meio aos desertos da vida. Que esta oração de Moisés seja também a nossa: que o Senhor se volte para nós, nos sacie com Sua benignidade e renove em nós a alegria de caminhar em Sua presença.